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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Apena um conto!!!



Saí do Cassino buscando o ar e a escuridão da noite de Montreux. Aquele ambiente estava me sufocando, o barulho de vozes, risos e gritos, a quantidade de pessoas, a agitação do jogo, a chauffage (aquecimento) me sufocavam, me faziam sentir como se o mundo tivesse ficado pequeno demais, apertado demais. Lá fora, a noite gelada e seca de inverno, rasgada pela luz de uma Lua cheia, acalmaram-me e renovaram minha disposição. Respirei fundo esperando meus sentidos se recuperarem, ficarem mais alertas enquanto apertava o sobretudo protegendo-me das fisgadas do frio que fazia ali, ao relento. Havia nevado de tarde, as máquinas já tinham feito seu serviço limpando as ruas, e a neve estava amontoada no meio fio das calçadas se transformando em obstáculos a serem transpostos. Fui subindo a rua deserta, desfrutando do frio que para mim era reconfortante, e da noite com seus sons macios, sutis, distantes. Eram 23h40min, mas a vida noturna no inverno suíço acontece em ambientes fechados e protegidos, onde as pessoas podem ficar mais à vontade, tirar os pesados casacos e tomar seus drinques.

Já tinha andado bastante, meu corpo estava aquecido, havia tirado o cachecol e as luvas e começava a cogitar sobre pegar um carro e ir para o hotel, quando vi a silhueta inconfundível daquele homem que, há alguns dias, vinha me cercando de atenções e com o qual já havia passado momentos encantadores. Seus olhos verdes, sua boca bem feita, as mãos bonitas e masculinas, povoavam meus sonhos, brotavam entre meus pensamentos sem qualquer motivo, sem qualquer aviso. Muito alto, elegante, os cabelos lisos nem curtos nem longos, vinha em minha direção num andar seguro como se já soubesse que me encontraria, como se fosse absolutamente natural que eu estivesse andando sozinha pelas ruas vazias e geladas àquela hora...

- Uma noite especial, não é? - disse ele parado à minha frente, a voz acariciante, os olhos firmes nos meus, um leve sorriso de lado, absolutamente irresistível. Sorri, sem conseguir disfarçar a surpresa e o prazer de vê-lo ali e com uma interrogação na expressão. - "Seu irmão me disse que você havia acabado de sair do Cassino." Abrindo mais o sorriso, ele tomou meu braço, encaixou no dele e, sem muitas explicações, seguimos juntos. Deixei-me guiar e fomos caminhando, minha cabeça encostada um pouco abaixo do seu ombro, os braços enlaçados, poucas palavras, todos os sentidos absolutamente alertas. O cheiro dele, o calor da presença, o olhar firme e doce ao mesmo tempo, me causavam uma espécie de torpor, uma tontura deliciosa, uma necessidade dele, de me sentir livre para ser como na verdade sou: intensa. Queria no mais profundo de mim, poder confiar naquele homem.

Chegamos a casa dele que ficava no alto e, até a porta de entrada, havia uma pequena escada. Continuamos praticamente em silêncio, minimamente quebrado por alguns sorrisos, algumas expressões, alguns sussurros... Ele pegou-me nos braços e subimos. A casa estava silenciosa e havia uma lareira acesa na sala que dava ao ambiente uma iluminação aconchegante e uma temperatura agradável. Ele tirou meu sobretudo, pendurou-o ao lado do dele e ofereceu-me um lugar confortável mais perto da lareira. Havia uma música suave tocando, embalando aqueles momentos tão próximos das cenas dos meus sonhos.

Nosso silêncio só nos aproximava, aumentava a eletricidade entre nós, a sensação de cumplicidade, a ternura, o desejo. Era como se nos conhecêssemos havia muito e não houvesse necessidade de palavras que explicassem coisa alguma. Nossas almas entendiam-se naturalmente pois se conheciam e se amavam desde sempre, isso era claro.

Ele nos serviu um vinho enquanto eu olhava os livros em sua estante. Vez por outra, ele me falava da origem do livro, edições únicas, com encadernações especiais. Todos os livros tinham uma história, haviam sido garimpados exaustivamente e ele gostava de falar nisso. Numa outra parte da estante, havia objetos antigos de família e um me chamou especialmente a atenção. Era um pequeno binóculo, uma linda peça feita em ouro e que havia pertencido a avó dele. Era usado para assistir aos espetáculos nos grandes teatros da Europa. A peça me encantou e coloquei-a sobre o nariz, tentando ver as coisas da sala. Ele me contava uma história que a avó havia vivido e que envolvia o pequeno objeto. Ele foi parando de falar e, de repente, se calou. Virei-me para olhá-lo ainda com o binóculo e encontrei o olhar dele fixo em mim. Os olhos verdes dentro dos meus, toda a paixão ardendo neles... Ficamos alguns minutos parados nos olhando... Baixei o pequeno binóculo e quando dei por mim, estávamos abraçados, os corpos apertados um no outro, os braços dele em torno de mim, meus braços no pescoço dele, unidos num beijo urgente que parecia que jamais acabaria... Só havia ele, os lábios dele, as mãos dele, o beijo dele, o corpo forte, o cheiro inesquecível, o gosto bom... Em instantes estávamos sobre o tapete grosso, de pele, macio e espesso que completava a sensação inebriante, acariciante, sensual que não deixava espaço para qualquer outra coisa que não fosse a paixão que explodiu em nós...

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